segunda-feira, 28 de julho de 2025

Terceira, a Melhor das Idades

  "Da série “Engenharia da Saúde”

INTRODUÇÃO

 

O envelhecimento saudável é uma decorrência multifatorial, que envolve embasamentos físicos e psicológicos.  

Com o aumento da expectativa de vida, devemos estabelecer um padrão salutar para manter uma “satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos, além de implicar uma idéia de felicidade, diminuindo os seus aspectos negativos".

 

Assim, para se obter essa qualidade de vida, é necessário equilíbrio e bem-estar individual, integrado na sociedade em que vivemos e na cultura desta comunidade.

Devemos estar cientes de que, "uma ancianidade tranquila e feliz é o somatório de tudo quanto beneficie o organismo: exercícios físicos, alimentação saudável, estabilidade emocional, espaço para o lazer e bom relacionamento social e familiar”.


Envelhecemos quando nossa trajetória está dando certo.

ASPECTOS GERAIS

 

Sabemos que, na terceira idade, ocorre uma desaceleração das aptidões físicas, por decorrência de patologias, prostração ou, principalmente, inatividade.

Mas pode-se (e deve-se) alterar hábitos e rotinas, buscando ações benéficas que produzam satisfação, num equilíbrio das funções orgânicas e das condições cognitivas e socioafetivas, tornando-nos mais sadios, independentes, sociáveis e eficientes.  

 

A má adaptabilidade às condições físicas pode desencadear redução na aptidão motora, rendimento físico, comportamento social, concentração, dentre outros.   

É comum observar idosos com comportamento exacerbado, que evitam contato e convivência social, normalmente inseguros, desmotivados e tendentes à solidão.   

 

Por vezes temos de nos adaptar em equilíbrio satisfatório à companhia

 

É natural que o processo de envelhecimento diminua a coordenação motora, reduza os sentidos da visão e audição, altere a elasticidade vascular, produza um débito cardiorrespiratório e consequentes. Mas estas disfunções são pequenas e podem ser compensadas por fatores decorrentes da grande experiência adquirida.

 

Por exemplo: a audição diminui cerca de 35% aos 80 anos de idade, cujos parâmetros serão minimizados na proporção inversa de sua inserção em condições de motivação e estimulação, ou seja, os sons agradáveis e interessantes passam a ser mais bem captados.  Observe-se que uma grande quantidade de jovens (15 a 25 anos) apresenta preocupante débito auditivo decorrente das potentes emanações sonoras a que estão submetidos (baladas, som automotivo,...), cujos problemas auditivos certamente já são bem maiores do que quando atingirem a terceira idade.


Sempre é bom lembrar que alguns idosos podem desenvolver mais atividades físicas do que muitos jovens, estes quais, comumente sedentários, comprometem os sentidos e a musculatura, presos muitas horas aos computadores e similares.

 

 
Atividades físicas são amplas e não se limitam apenas às academias

Um aspecto importantíssimo é a ingesta de água, pois sabemos, que nosso corpo possui 70% de água. E, depois dos 40 anos há uma tendência à desidratação, sendo comum constatarmos pessoas com 60 anos, em preocupante débito.  O agravante é a falta do desejo de beber água, pois que o sentido da sede é reduzido a partir dos 50 anos, diminuindo nossa reserva hídrica e promovendo uma crônica desidratação. Tal fato é ainda mais notório nas senhoras, quando se submetem à suspeitos regimes de emagrecimento, com decorrente flacidez da pele e formação de rugas.  A desidratação provoca confusão mental, irritação, falta de atenção. Bebamos líquidos, a cada duas horas, nas mais variadas e saborosas formas: água pura, suco, chá, leite, chimarrão, sopa,...  E, como as bebidas alcoólicas desidratam, devemos bebê-las moderadamente. 

 Será verdade que as pessoas alegres bebem mais água?

 

As atividades intelectuais, como palavras cruzadas, jogos de mesa (carteado, dominó,..) sempre intercalados com atividades físicas, são beneficamente salutares. O jogo da mora, saudável tradição trazida da Itália é um perfeito exemplo de atividade lúdica, cultivando agilidade mental, incorporada com ativos movimentos corporais.  Recomenda-se sempre que, após os 60 anos, o tempo máximo para ficar sentado é de uma hora, para não comprometer a vascularização dos membros. As atividades inertes devem ser intercaladas com pequenas caminhadas ou exercícios.

 

O cérebro também necessita de exercício. 

 

Exercitemos a capacidade de assimilar novos conhecimentos

 

Apesar da perda parcial de algumas habilidades físicas, os idosos não ficam incapacitados para o trabalho, pois tendo acumulado profícua experiência durante várias décadas, podem apresentar um ótimo desempenho em vários trabalhos, no limite de suas capacidades.  A terceira idade caracteriza-se por ter mais cautela na tomada de decisões, pois adotam procedimentos mais seguros, reduzem as incertezas, são mais seletivos no aprendizado, intensamente responsáveis e, normalmente, apresentando alto poder de concentração.

 

O exercício do poder de concentração

 

A própria redução na capacidade de processamento de informações, promove a tendência de estreitar os campos de interesse, evitando a comum dispersão, característica do jovem.  Este fato contribui para o idoso direcionar a concentração e a confiabilidade nos resultados. 

Estas características têm induzido muitas empresas a contratarem idosos para trabalhos específicos que exigem responsabilidade de execução.

 

Será que os meninos estão perdendo espaço para as meninas?

 

E não devemos esquecer das especificidades das mulheres, nossas queridas e indispensáveis companheiras.  Considerando também, que a participação delas nas atividades gerais de trabalho aumentou consideravelmente nos últimos 50 anos. 

Até a 2ª guerra, a atividade feminina era restrita a poucas e raras jovens, necessariamente solteiras.  Hoje já representam mais de 40% da atividade produtiva, seja na educação, comércio, indústria, serviços e todos os segmentos antes exclusivamente masculinos.

         

Elas completam nossa vida, alegremo-nos de suas companhias

 

Algumas características femininas produzem melhores resultados quanto à adaptabilidade às tarefas que exigem maior atenção a pequenos detalhes.

A suspensão do ciclo menstrual, aliada a uma conveniente reposição hormonal, libera limitações antes existentes para várias atividades. 

Assim, as idosas complementam as distintivas qualidades masculinas, com suas doces particularidades (mais homens são motivados por mulheres, para irem ao consultório médico, dentário, ginástica, farmácia, viagens, festas, caminhadas...).

As mulheres são normalmente mais predispostas, vaidosas, ativas, com demonstradas iniciativas, qualidades que não devem desperdiçar na melhor idade.

Convenhamos que, embora alguns homens tenham admiráveis habilidades culinárias, as idosas detêm o natural privilégio do insuperável sabor na boa mesa.

 

A Preocupação com a memória

 

Minha experiência de vida, passados três quartos de século, induzem a concluir que “a preocupação pelas falhas na memória ocupa o importante espaço destinado a ela.”  Ou seja, viva melhor sem se preocupar com eventuais enganos, pois eles fazem parte da vida.  Lembro de um fato curioso, quando minha idosa mamãe encontrou uma amiga que não via há décadas. Após algumas gentis palavras, ambas confessaram que confundiram, imaginando ser outra pessoa. Iniciaram uma boa amizade, com visitas recíprocas e alegres conversas por longos anos. 


Ah, lembrei,...é hoje!

 

E alguns aspectos relevantes são citados pelo neurocientista Charan Ranganath (Professor of Neuroscience and director of the Dynamic Memory Lab at the University of California), no sentido de minimizar estes lapsos.  Dentre estes, ele destaca quatro principais:

1. Dormir o suficiente, já que é durante o sono que o cérebro aciona o sistema que drena as toxinas acumuladas.

2. Evitar atividades “multitarefas”, infelizmente tidas como algo positivo, mas ele alerta que isso pode ser negativo para a memória, pois nossa necessidade é de concentração linear e as informações paralelas podem comprometer a memorização presente. 
3
.Nosso cérebro é seletivo, pois os eventos associados ao medo, raiva, desejo, felicidade, surpresa ou outras emoções capazes de liberar substâncias químicas como adrenalina, serotonina, dopamina ou cortisol vão acabar fixados em nossos neurônios. Quebrar a monotonia e sair da rotina é, boa melhor maneira de preservar a plasticidade mental.
4.
Ainda que nossa mente seja capacitada a operar com cerca de 34 gigabytes, o equivalente a 11,8 horas de informação por dia, o propósito basilar da memória não é recordar o passado, mesmo recente, mas selecionar as informações importantes de que necessitamos para compreender o presente, e nos preparar para o futuro.

A eficácia desta assimilação depende do esforço para evocá-la com sutilezas motivadoras, por exemplo: ao ser apresentado à alguém, repita o nome da pessoa durante o assunto, vinculando-o ao visual de sua fisionomia. 


A ideia é morrer jovem, o mais velho possível...


CONCLUSÃO

As alterações das capacidades física, anatômica, fisiológica, psicossocial e cognitiva são comuns e evoluem progressivamente, no processo de envelhecimento. Porém estes processos podem (e devem) ser protelados e até eliminados com a prática de agradáveis atividades físicas e mentais.

Lembrar que uma alimentação saudável e a ingesta de muito líquido são receitas indispensáveis.

 

A boa longevidade não deve significar apenas “atingir idade avançada”, na divulgação estatística do aumento da expectativa de vida, mas sim com benefícios, proporcionando uma melhor qualidade, com atividades convenientes, integradas e saudáveis. 

Na terceira idade, ao manter a atividade e a satisfação, o indivíduo se sentirá mais útil, independente, com mais esperança e vontade de viver. Com mais autoestima, vitalidade e disposição, tornando-se sociável e feliz.

 

 
Prof. Darlou D’Arisbo - MSc, (78 anos) Mestre em Antropometria, palestrante em várias Universidades do Paraná, atualmente dedica-se à pesquisa e publicação de condicionantes essenciais para a melhoria da qualidade de vida.

E, como as demais, estas publicações são dirigidas a público leigo, com propósito elucidativo, sem intenção de invadir o profissionalismo médico especializado. 

A primeira foto é do autor e as demais obtidas da internet em sites livres de direitos autorais.  

 


sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Patologias por uso de sapatos com salto alto - Publicação 07

 Da série “Engenharia da Saúde"

Prólogo

Sempre, ao iniciar mais uma publicação, evidencio minha gratidão a todos que me honram com suas presenças virtuais. Nesta, 01 de agosto de 2024, conto com mais de 692.000 visitantes de todo o mundo, que valorizam meu trabalho nestas pesquisas, estimulando a continuidade neste mister altruísta e proficiente.  

E, como em todas, estas publicações são dirigidas a público leigo, com propósito elucidativo, sem intenção de invadir o profissionalismo médico especializado.

Assim posto, humildemente apresento mais este corolário, alicerçado na melhor parte de meus três quartos de século de existência, nos 42 anos como professor e no mestrado na área de ergonomia e antropometria.

História

Surpreendentemente, os sapatos com salto elevado começaram a ser utilizados no século X dC, por artilheiros masculinos, para firmar melhor seus pés nos estribos, proporcionando mais firmeza ao flechar inimigos. 

Na época do Renascimento,  (século XVI), o salto ainda era utilizado somente por homens, porém com a intenção de revelar poder e autoridade. 

Apenas no decurso de 1800, as senhoras iniciaram a utilização, com a pretenção de tentar aproximar-se da estatura de seus acompanhantes masculinos, os quais,  na época vangloriavam-se de suas cartolas, parecendo ainda mais altos.

O estudo

Vários tratados científicos atuais têm estudado as decorrências patológicas em adolescentes, pela utilização de calçados com salto alto.

Dentre outros, esta é uma conclusão da dissertação de mestrado da fisioterapeuta Patrícia Angélica de Oliveira Pezzan, da Faculdade de Medicina da USP, sob a orientação da Profa. Dra. Silvia Maria Amado João.

O objetivo deste estudo foi analisar a influência dos calçados de salto alto e do tipo Anabella, na postura e na marcha de jovens entre 13 e 20 anos de idade.

Foram analisadas 50 usuárias e 50 não-usuárias desse tipo de calçado.

Concluiu que o uso do salto alto influencia de forma negativa tanto a postura da coluna lombar, pelve e membros inferiores. 


Patologias já sentidas (imagem FreePik)

“E se as adolescentes já começam cedo a fazer uso prolongado do salto alto, podem terminar a fase de crescimento – ósseo e muscular - com alterações na postura e na marcha. Essas alterações, ao longo do tempo, podem gerar dores, desequilíbrio muscular, estresse articular e até degeneração das articulações”.
Em relação aos ângulos posturais, o estudo da FMUSP complementa que o uso prolongado do salto alto, desde a adolescência, causa aumento da lordose lombar (curva acentuada na base da coluna) e posiciona a pelve em anteversão (“bumbum empinado”) com riscos danosos na coluna.
Outra consequência, em relação à postura, é a aproximação dos joelhos (“joelho valgo”) e o afastamento dos pés, deixando as pernas no formato de um “x”, pois o seu peso é projetado para frente, proporcionando anteriorização do centro de gravidade, com a alteração crônica do ângulo tíbio társico, sobre a parte anterior do pé.


Normal                   Valgus                       Varus

O uso crônico do salto alto pode também causar postura de “Varus” em retropé (pé varo), descarregando o peso do corpo na porção lateral dos pés, provocando uma torção no calcanhar, que o inclina para fora, comprovado pelo gasto irregular da sola do calçado.

Meninas de 12 e 13 anos usando salto alto é algo que já não nos causa muito espanto, mas seus responsáveis desconhecem os graves problemas que este hábito pode trazer e que se manifestam a curto prazo, pois com um ano de uso frequente já começam a demonstrar sintomas, como desvios na porção lombar como hiperlordose e também desvio ósseo da pélvis.

Imagem de tensões no pé (gentileza Dr. Daniel Baumfeld)

Comprovações

Algumas revelações são flagrantes, como a observação das pegadas de senhoras que caminham na areia da praia. As marcas deixadas evidenciam a exagerada pressão na porção plantar anterior, próxima aos dedos. (similar as pegadas alguns animais, como os suínos) e frequentemente sentem incômodo em caminhar com os pés uniformemente apoiados no solo.

Além disso, os reflexos aparecem nos músculos e articulações, alterando tensões e equilíbrio. Muitos são os acidentes de quedas, principalmente ao acelerar o passo, como atravessar uma via de trânsito, com a possibilidade de atropelamento pós queda e suas trágicas consequências.

Como o processo normalmente é indolor e cumulativo, as patologias decorrentes serão sensíveis apenas tardiamente, com soluções impraticáveis ou com muito padecimento. 

Encurtamento dos músculos da panturrilha


Outro estudo

Uma publicação no The Journal of Experimental Biology, conclui que as fibras musculares da panturrilha das usuárias de salto eram, em média, 13% menores e mais enrijecidos do que naquelas que evitam o salto. O estudo foi liderado pelo Prof. Dr. Marco Narici, da Manchester Metropolitan University e comprovou em ultrassonografia que as fibras musculares eram menores e mais rígidas naquelas que usavam salto, com possibilidade de desenvolvimento precoce de varicoses.

Obviamente, este artigo não pretende causar polêmicas quanto ao uso do salto alto nas adolescentes e senhoras, mas sim e, devidamente embasado em resultados acadêmicos, alertar quanto às decorrências desta utilização.


Prof.  Darlou  D’Arisbo - MSc

Mestre em Antropometria 

Recebi, com satisfação o comentário de um médico ortopedista da Ucrania, um dos milhares de seguidores deste blog, o qual transcrevo, traduzido.

“Tive oportunidade de observar 3.000 meninas estudantes e quase todas as usavam salto alto. Nestas, testemunhei a formação de graus variados de HALLUX VALGUS.  Com o prejuízo do apoio dos pés.  As cadeias músculo-fasciais foram comprometidas, como descrito em  "Atlas funcional do sistema fascial humano" Carl Stecco e no “Estudo de Meridianos Miofasciais de Trens de Anatomia” de Thomas Myers.

Estas meninas tenderão a apresentar vários problemas com a coluna vertebral, órgãos internos, diafragma, complicações no parto, com alta porcentagem de cesarianas e outros decorrentes. 

Infelizmente, este problema é comum, com longo padecimento e exigindo reabilitação de longo prazo, disciplina do paciente e paciência do médico.

Obrigado Dr. Darlou por um artigo tão atualizado.  Dr. Vladimir Tvirko (médico ucraniano)”

 

Terceira, a Melhor das Idades

   "Da série “Engenharia da Saúde” INTRODUÇÃO   O envelhecimento saudável é uma decorrência multifatorial, que envolve embasamentos...