"Da série “Engenharia da Saúde”
INTRODUÇÃO
O envelhecimento saudável é uma decorrência multifatorial, que envolve embasamentos físicos e psicológicos.
Com o aumento da expectativa de vida, devemos estabelecer um padrão salutar para manter uma “satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos, além de implicar uma idéia de felicidade, diminuindo os seus aspectos negativos".
Assim, para se obter essa qualidade de vida, é necessário equilíbrio e bem-estar individual, integrado na sociedade em que vivemos e na cultura desta comunidade.
Devemos estar cientes de que, "uma ancianidade tranquila e feliz é o somatório de tudo quanto beneficie o organismo: exercícios físicos, alimentação saudável, estabilidade emocional, espaço para o lazer e bom relacionamento social e familiar”.
ASPECTOS GERAIS
Sabemos que, na terceira idade, ocorre uma desaceleração das aptidões físicas, por decorrência de patologias, prostração ou, principalmente, inatividade.
Mas pode-se (e deve-se) alterar hábitos e rotinas, buscando ações benéficas que produzam satisfação, num equilíbrio das funções orgânicas e das condições cognitivas e socioafetivas, tornando-nos mais sadios, independentes, sociáveis e eficientes.
A má adaptabilidade às condições físicas pode desencadear redução na aptidão motora, rendimento físico, comportamento social, concentração, dentre outros.
É comum observar idosos com comportamento exacerbado, que evitam contato e convivência social, normalmente inseguros, desmotivados e tendentes à solidão.
Por vezes temos de nos adaptar em equilíbrio satisfatório à companhia
É natural que o processo de envelhecimento diminua a coordenação motora, reduza os sentidos da visão e audição, altere a elasticidade vascular, produza um débito cardiorrespiratório e consequentes. Mas estas disfunções são pequenas e podem ser compensadas por fatores decorrentes da grande experiência adquirida.
Por exemplo: a audição diminui cerca de 35% aos 80 anos de idade, cujos parâmetros serão minimizados na proporção inversa de sua inserção em condições de motivação e estimulação, ou seja, os sons agradáveis e interessantes passam a ser mais bem captados. Observe-se que uma grande quantidade de jovens (15 a 25 anos) apresenta preocupante débito auditivo decorrente das potentes emanações sonoras a que estão submetidos (baladas, som automotivo,...), cujos problemas auditivos certamente já são bem maiores do que quando atingirem a terceira idade.
Sempre é bom lembrar que alguns idosos podem desenvolver mais atividades físicas do que muitos jovens, estes quais, comumente sedentários, comprometem os sentidos e a musculatura, presos muitas horas aos computadores e similares.
Um aspecto importantíssimo é a ingesta de água, pois sabemos, que nosso corpo possui 70% de água. E, depois dos 40 anos há uma tendência à desidratação, sendo comum constatarmos pessoas com 60 anos, em preocupante débito. O agravante é a falta do desejo de beber água, pois que o sentido da sede é reduzido a partir dos 50 anos, diminuindo nossa reserva hídrica e promovendo uma crônica desidratação. Tal fato é ainda mais notório nas senhoras, quando se submetem à suspeitos regimes de emagrecimento, com decorrente flacidez da pele e formação de rugas. A desidratação provoca confusão mental, irritação, falta de atenção. Bebamos líquidos, a cada duas horas, nas mais variadas e saborosas formas: água pura, suco, chá, leite, chimarrão, sopa,... E, como as bebidas alcoólicas desidratam, devemos bebê-las moderadamente.
Será verdade que as pessoas alegres bebem mais água?
As atividades intelectuais, como palavras cruzadas, jogos de mesa (carteado, dominó,..) sempre intercalados com atividades físicas, são beneficamente salutares. O jogo da mora, saudável tradição trazida da Itália é um perfeito exemplo de atividade lúdica, cultivando agilidade mental, incorporada com ativos movimentos corporais. Recomenda-se sempre que, após os 60 anos, o tempo máximo para ficar sentado é de uma hora, para não comprometer a vascularização dos membros. As atividades inertes devem ser intercaladas com pequenas caminhadas ou exercícios.
O cérebro também necessita de exercício.
Exercitemos a capacidade de assimilar novos conhecimentos
Apesar da perda parcial de algumas habilidades físicas, os idosos não ficam incapacitados para o trabalho, pois tendo acumulado profícua experiência durante várias décadas, podem apresentar um ótimo desempenho em vários trabalhos, no limite de suas capacidades. A terceira idade caracteriza-se por ter mais cautela na tomada de decisões, pois adotam procedimentos mais seguros, reduzem as incertezas, são mais seletivos no aprendizado, intensamente responsáveis e, normalmente, apresentando alto poder de concentração.
A própria redução na capacidade de processamento de informações, promove a tendência de estreitar os campos de interesse, evitando a comum dispersão, característica do jovem. Este fato contribui para o idoso direcionar a concentração e a confiabilidade nos resultados.
Estas características têm induzido muitas empresas a contratarem idosos para trabalhos específicos que exigem responsabilidade de execução.
Será que os meninos estão perdendo espaço para as meninas?
E não devemos esquecer das especificidades das mulheres, nossas queridas e indispensáveis companheiras. Considerando também, que a participação delas nas atividades gerais de trabalho aumentou consideravelmente nos últimos 50 anos.
Até a 2ª guerra, a atividade feminina era restrita a poucas e raras jovens, necessariamente solteiras. Hoje já representam mais de 40% da atividade produtiva, seja na educação, comércio, indústria, serviços e todos os segmentos antes exclusivamente masculinos.
Elas completam nossa vida, alegremo-nos de suas companhias
Algumas características femininas produzem melhores resultados quanto à adaptabilidade às tarefas que exigem maior atenção a pequenos detalhes.
A suspensão do ciclo menstrual, aliada a uma conveniente reposição hormonal, libera limitações antes existentes para várias atividades.
Assim, as idosas complementam as distintivas qualidades masculinas, com suas doces particularidades (mais homens são motivados por mulheres, para irem ao consultório médico, dentário, ginástica, farmácia, viagens, festas, caminhadas...).
As mulheres são normalmente mais predispostas, vaidosas, ativas, com demonstradas iniciativas, qualidades que não devem desperdiçar na melhor idade.
Convenhamos que, embora alguns homens tenham admiráveis habilidades culinárias, as idosas detêm o natural privilégio do insuperável sabor na boa mesa.
A Preocupação com a memória
Minha experiência de vida, passados três quartos de século, induzem a concluir que “a preocupação pelas falhas na memória ocupa o importante espaço destinado a ela.” Ou seja, viva melhor sem se preocupar com eventuais enganos, pois eles fazem parte da vida. Lembro de um fato curioso, quando minha idosa mamãe encontrou uma amiga que não via há décadas. Após algumas gentis palavras, ambas confessaram que confundiram, imaginando ser outra pessoa. Iniciaram uma boa amizade, com visitas recíprocas e alegres conversas por longos anos.
E alguns aspectos relevantes são citados pelo neurocientista Charan Ranganath (Professor of Neuroscience and director of the Dynamic Memory Lab at the University of California), no sentido de minimizar estes lapsos. Dentre estes, ele destaca quatro principais:
1. Dormir o suficiente, já que é durante o sono que o cérebro aciona o sistema que drena as toxinas acumuladas.
2.
Evitar atividades “multitarefas”, infelizmente tidas como algo positivo, mas
ele alerta que isso pode ser negativo para a memória, pois nossa necessidade é
de concentração linear e as informações paralelas podem comprometer a
memorização presente.
3.Nosso cérebro é seletivo, pois os eventos
associados ao medo, raiva, desejo, felicidade, surpresa ou outras emoções
capazes de liberar substâncias químicas como adrenalina, serotonina, dopamina
ou cortisol vão acabar fixados em nossos neurônios. Quebrar a monotonia e sair
da rotina é, boa melhor maneira de preservar a plasticidade mental.
4.Ainda que nossa mente seja capacitada a
operar com cerca de 34 gigabytes, o equivalente a 11,8 horas de informação por
dia, o propósito basilar da memória não é recordar o passado, mesmo recente,
mas selecionar as informações importantes de que necessitamos para compreender
o presente, e nos preparar para o futuro.
A eficácia desta assimilação depende do esforço para evocá-la com sutilezas motivadoras, por exemplo: ao ser apresentado à alguém, repita o nome da pessoa durante o assunto, vinculando-o ao visual de sua fisionomia.
A ideia é morrer jovem, o mais velho possível...
CONCLUSÃO
As alterações das capacidades física, anatômica, fisiológica, psicossocial e
cognitiva são comuns e evoluem progressivamente, no processo de envelhecimento.
Porém estes processos podem (e devem) ser protelados e até eliminados com a
prática de agradáveis atividades físicas e mentais.
Lembrar que uma alimentação saudável e a ingesta de muito líquido são receitas indispensáveis.
A boa longevidade não deve significar apenas “atingir idade avançada”, na divulgação estatística do aumento da expectativa de vida, mas sim com benefícios, proporcionando uma melhor qualidade, com atividades convenientes, integradas e saudáveis.
Na terceira idade, ao manter a atividade e a satisfação, o indivíduo se sentirá mais útil, independente, com mais esperança e vontade de viver. Com mais autoestima, vitalidade e disposição, tornando-se sociável e feliz.
Prof.
Darlou D’Arisbo - MSc, (78 anos) Mestre em Antropometria, palestrante
em várias Universidades do Paraná, atualmente dedica-se à pesquisa e
publicação de condicionantes essenciais para a melhoria da qualidade de
vida.
E, como as demais, estas publicações são dirigidas a
público leigo, com propósito elucidativo, sem intenção de invadir o
profissionalismo médico especializado.
A primeira foto é do autor e as demais obtidas da internet em sites livres de direitos autorais.