Prólogo
Sempre, ao iniciar mais uma publicação, evidencio minha gratidão a todos que me honram com suas presenças virtuais. Hoje, 01 de agosto de 2024, conto com mais de 692.000 visitantes de todo o mundo, que valorizam meu trabalho nestas pesquisas, estimulando a continuidade neste mister altruísta e proficiente.
E, como em todas, estas publicações também são dirigidas a público leigo, com propósito elucidativo, sem intenção de invadir o profissionalismo médico especializado.
Assim posto, humildemente apresento mais este corolário, alicerçado na melhor parte de meus três quartos de século de existência, nos 42 anos como professor e no mestrado na área de ergonomia e antropometria.
História
Surpreendentemente, os sapatos com salto elevado começaram a ser utilizados no século X dC, por artilheiros masculinos, para firmar melhor seus pés nos estribos, proporcionando mais firmeza ao flechar inimigos.
Na época do Renascimento, (século XVI), o salto ainda era utilizado somente por homens, porém com a intenção de revelar poder e autoridade.
Apenas no decurso de 1800, as senhoras iniciaram a utilização, com a pretenção de tentar aproximar-se da estatura de seus acompanhantes masculinos, os quais, na época vangloriavam-se de suas cartolas, parecendo ainda mais altos.
O estudo
Vários tratados científicos atuais têm estudado as decorrências patológicas em adolescentes, pela utilização de calçados com salto alto.
Dentre outros, esta é uma conclusão da dissertação de mestrado da fisioterapeuta Patrícia Angélica de Oliveira Pezzan, da Faculdade de Medicina da USP, sob a orientação da Profa. Dra. Silvia Maria Amado João.
O objetivo deste estudo foi analisar a influência dos calçados de salto alto e do tipo Anabella, na postura e na marcha de jovens entre 13 e 20 anos de idade.
Foram analisadas 50 usuárias e 50 não-usuárias desse tipo de calçado.
Concluiu que o uso do salto alto influencia de forma negativa tanto a postura da coluna lombar, pelve e membros inferiores.
“E se as adolescentes já começam cedo a fazer uso prolongado do salto alto, podem terminar a fase de crescimento – ósseo e muscular - com alterações na postura e na marcha. Essas alterações, ao longo do tempo, podem gerar dores, desequilíbrio muscular, estresse articular e até degeneração das articulações”.
Em relação aos ângulos posturais, o estudo da FMUSP complementa que o uso prolongado do salto alto, desde a adolescência, causa aumento da lordose lombar (curva acentuada na base da coluna) e posiciona a pelve em anteversão (“bumbum empinado”) com riscos danosos na coluna.
Outra consequência, em relação à postura, é a aproximação dos joelhos (“joelho valgo”) e o afastamento dos pés, deixando as pernas no formato de um “x”, pois o seu peso é projetado para frente, proporcionando anteriorização do centro de gravidade, com a alteração crônica do ângulo tíbio társico, sobre a parte anterior do pé.
Normal Valgus Varus
O uso crônico do salto alto pode também causar postura de “Varus” em retropé (pé varo), descarregando o peso do corpo na porção lateral dos pés, provocando uma torção no calcanhar, que o inclina para fora, comprovado pelo gasto irregular da sola do calçado.
Meninas de 12 e 13 anos usando salto alto é algo que já não nos causa muito espanto, mas seus responsáveis desconhecem os graves problemas que este hábito pode trazer e que se manifestam a curto prazo, pois com um ano de uso frequente já começam a demonstrar sintomas, como desvios na porção lombar como hiperlordose e também desvio ósseo da pélvis.
Imagem de tensões no pé (gentileza Dr. Daniel Baumfeld) |
Comprovações
Algumas revelações são flagrantes, como a observação das pegadas de senhoras que caminham na areia da praia. As marcas deixadas evidenciam a exagerada pressão na porção plantar anterior, próxima aos dedos. (similar as pegadas alguns animais, como os suínos) e frequentemente sentem incômodo em caminhar com os pés uniformemente apoiados no solo.
Além disso, os reflexos aparecem nos músculos e articulações, alterando tensões e equilíbrio. Muitos são os acidentes de quedas, principalmente ao acelerar o passo, como atravessar uma via de trânsito, com a possibilidade de atropelamento pós queda e suas trágicas consequências.
Como o processo normalmente é indolor e cumulativo, as patologias
decorrentes serão sensíveis apenas tardiamente, com soluções
impraticáveis ou com muito padecimento.
Encurtamento dos músculos da panturrilha |
Outro estudo
Uma publicação no The Journal of Experimental Biology, conclui que as fibras musculares da panturrilha das usuárias de salto eram, em média, 13% menores e mais enrijecidos do que naquelas que evitam o salto. O estudo foi liderado pelo Prof. Dr. Marco Narici, da Manchester Metropolitan University e comprovou em ultrassonografia que as fibras musculares eram menores e mais rígidas naquelas que usavam salto, com possibilidade de desenvolvimento precoce de varicoses.
Obviamente, este artigo não pretende causar polêmicas quanto ao uso do salto alto nas adolescentes e senhoras, mas sim e, devidamente embasado em resultados acadêmicos, alertar quanto às decorrências desta utilização.
Prof. Darlou D’Arisbo
Mestre em Antropometria
Recebi, com satisfação o comentário de um médico ortopedista da Ucrania, a qual transcrevo, traduzido.
“Tive oportunidade de observar 3.000 meninas estudantes e quase todas as usavam salto alto. Nestas, testemunhei a formação de graus variados de HALLUX VALGUS. Com o prejuízo do apoio dos pés. As cadeias músculo-fasciais foram comprometidas, como descrito em "Atlas funcional do sistema fascial humano" Carl Stecco e no “Estudo de Meridianos Miofasciais de Trens de Anatomia” de Thomas Myers.
Estas meninas tenderão a apresentar vários problemas com a coluna vertebral, órgãos internos, diafragma, complicações no parto, com alta porcentagem de cesarianas e outros decorrentes.
Infelizmente, este problema é comum, com longo padecimento e exigindo reabilitação de longo prazo, disciplina do paciente e paciência do médico.
Obrigado Dr. Darlou por um artigo tão atualizado. Dr. Vladimir Tvirko (médico ucraniano)”